Interviews

 “Flor de Lótus” Interview

Darshan, há dez anos a sua vida mudou radicalmente…

Depois de uma operação ao fígado e à vesícula foi o Reiki que me devolveu a vida e à vida, pois enquanto estive doente sentia-me a viver dentro de um parêntesis…Recuperada, deixei a carreira universitária e as políticas culturais e linguísticas. Decidi então tornar-me companheira de jornada dos que, como eu, chegam a uma encruzilhada em que a escolha, de tão extrema e definitiva, é simples: suicidar-se, morrer para si mesmo ou iniciar um processo de renascimento. Tornei-me Mestre profissional de Reiki.

Como viveu esse renascimento?

Permiti-me ser guiada pela sabedoria da Existência e, enquanto caminhava, ia amadurecendo, como pessoa e como agente de cura para os outros. Renovando diariamente o meu compromisso de cura individual e de partilhar com os outros o que assim alcançasse, foi-se criando em mim o espaço e a qualidade necessárias para aprender as técnicas ou métodos que, hoje, utilizo numa síntese que espelha uma síntese operada na alma, enquanto curadora. Trata-se de uma abordagem que, mesmo quando direccionada para clientes de culturas tão diferentes da nossa, como acontece quando estou na Índia ou no Japão, sempre lhes permite, em tempo recorde, viver mais vezes mais felizes, tocando a vida de todos de uma maneira que, surpreendendo os próprios, me surpreende às vezes ainda mais a mim. É a magia do método SHANZEN), acrónimo do SHAN de Darshan, o meu nome de OSHO sannyasin, que significa “Ver”, e de Zen, fragrância espiritual igualmente acalentada por Mikao Usui, o fundador do Reiki, e por OSHO. Eu sou fruto, na minha essência espiritual hoje, destes dois portais de energia: Reiki/Usui e Osho.

Em que consiste o Método Shanzen ?

Em Agosto passei por um processo Meditativo de sete dias, em isolamento e silêncio, intitulado Satori na OSHO Multiversity. Envolta e repleta da energia gerada durante este processo vi amanhecer em mim o Método SHANZEN nos mais ínfimos detalhes. Trata-se de um método terapêutico-meditativo assente em Constelações / Criança Interior / Curando o Trauma / Hipnose Alquímica / Técnicas de Reiki para cura psíquica, emocional e de descondicionamento/reprogramação/ Meditações e Ensinamentos espirituais e curativos de OSHO / Trabalho Corporal e Dança e Técnicas Zen de auto-exploração.

A Darshan Zen International, que dirige, de que maneira renova o projecto que iniciou há dez anos?

Em 2007, passando por nova crise, desta vez sentimental, iniciei uma nova etapa de busca de mim mesma. Pela mão carinhosa da minha formadora em Constelações Familiares, Rakasa Lucero, após jornada meditativa no OSHO International Resort, tornei-me sannyasin tendo começado, logo que regressei a Lisboa, a conduzir OSHO Meditações Activas e a traduzir discursos do Mestre em DVD. Este Verão, aquando de nova estadia dedicada à Meditação no Ashram de Puna foi-me concedida pela OSHO International Foundation uma licença para abrir um OSHO Centro de Informação.

A criação do OSHO Centro de Meditação foi o motor desta nova etapa?

O meu entusiasmo e o dos meus buscadores/companheiros de jornada era irrefreável. Criar um lugar onde aprofundar o legado espiritual de OSHO e praticar as suas Meditações Activas tornou-se uma Missão jubilosa. Encontrado o local, deitámos mãos à obra! A renovação do espaço fizémo-la quase inteiramente nós: já ouviu falar em trabalho como meditação ? Cada um descobrindo-se e crescendo através desta experiência…

E a internacionalização?

Vários OSHO Terapeutas desejam cá vir e no Verão irei à Índia ensinar Reiki e trabalhar com SHANZEN. Frank Arjava Petter virá na Primavera ensinar Técnicas Originais Japonesas de Reiki e, em conjunto, promoveremos umas OSHO Jornadas de Meditação. Também vou ensinar Jikiden Reiki em Espanha.

Novidades para o início do ano?

De 12 a 18 de Fevereiro, Tadao Yamaguchi estará novamente connosco. Nos seus seminários somos abençoados com o legado original de Mikao Usui que todos julgávamos ter-se perdido com a morte de Hayashi em 1940…O Jikiden Reiki é a única Escola de Reiki Japonês a transmitir, intactos, os ensinamentos de Chujiro Hayashi, isto é, quem o estuda na actualidade recebe o mesmo conhecimento que qualquer pessoa que tenha estudado directamente com Hayashi sensei a partir de 1928.

Chiyoko Yamaguchi aprendeu Reiki com Hayashi e praticou-o durante 65 anos (morre em 2003), sem introduzir alterações no sistema que recebera do Mestre.Tadao Yamaguchi assumiu como missão de vida propagar o legado de Chujiro Hayashi que constitui hoje, no Japão e no mundo, o mais puro sistema de Reiki, intitulando o método que a mãe lhe transmitiu desde a infância “Jikiden Reiki” (Jikiden = ensino/transmissão directa) que vem ensinando no Japão, Europa e Estados Unidos.

Visite o novo site www.darshanzen.com e aceite o convite para sulcar, em jangada de amor, mares de lágrimas e oceanos de risos, rumo à terra firme da Consciência.

Artigo na Viver Saúde

Iluminando o amor com as Constelações Familiares

É difícil partilhar o que quer que seja sobre a abordagem das CF. Não só pela multiplicidade de tramas e enredos familiares que toca, mas ainda mais porque tal só é possível se quem nos ouve ou lê, sem ter passado pela experiência, está aberto ao mistério. Ainda assim, aqui deixo algumas das ideias que se destacaram das reflexões a que me votei antes de começar, este mês, a formar pessoas nesta escola de vida que, primeiro nos desconcerta e, depois, nos conserta.

Desconcerta–nos porque passando pela experiência das CF compreendemos que vivemos sob a influência de intricadas forças que, manifestando-se de maneira oculta no seio familiar, nos envolvem em morte na infância ou mesmo na idade adulta, lançando-nos na depressão (e outros males emocionais ou comportamentais), anorexia ou bulimia, dependências, cancro, suicídio, acidentes, etc..

Conserta-nos porque, ao votarmo-nos ao processo de desvendamento que constitui uma CF, emerge, entre muitas outras coisas, como nos é fácil acreditar, infantil e inconsciententemente, termos poderes de vida e de morte e arvorarmo-nos em salvadores dos membros da nossa família movidos por um amor que jamais imaginámos ser tão cego e total. Reconhecendo, vendo, inteirando-nos do que estava oculto, a luz que irrompe de uma CF incita-nos desde logo a assumir a responsabilidade do nosso próprio destino que é apanágio do adulto.

Algumas das dinâmicas sistémicas que nos aprisionam assentam no pensamento mágico de que posso oferecer-me em sacrifício para poupar alguém. Caso: morro em vez da minha mãe que, irresistivelmente puxada para “seguir” a mãe dela que morreu cedo, tentou já suicidar-se… A CF torna-nos conscientes do amor cego que nos condiciona, e, assim, leva cada um a ocupar o seu lugar por inteiro, reconhecendo e respeitando com amorosa distância os outros (vivos ou mortos) que, experimentando iguais esplendores e misérias, ocupam o lugar que lhes compete. E o lugar do filho/a, quando ocupado devidamente, é o de quem recebe e se reduz à sua (real ) pequenez perante os que directamente lhe deram a vida e perante a cadeia de antepassados que passaram a vida, de geração em geração, desde a noite dos tempos, até ter chegado a sua vez de ser dado à vida.

Para exemplificar, mesmo que de maneira redutora, pois a única que o não é consiste em passar pela experiência lenitiva da CF, aqui revelo um outro aspecto que constitui igualmente um fardo venenoso para aquele que o carrega no seu sistema familiar: achar a morte de alguém próximo um facto discutível. Caso: se a minha irmã mais nova tivesse ouvido os meus conselhos (comido melhor, vivido melhor, escolhido melhor) não teria tido cancro e morrido. Quem assim argumenta, regra geral, vê-se impedido de fazer o luto devido à intensidade da recriminação e, passando a opor-se com arrogância inconsciente à inexorável corrente da vida, acaba também, frequentemente, por ficar doente.

Iluminar o amor é a proposta fulcral das Constelações Familiares. Se se sente preso/a em emaranhados familiares que, aparentemente, parecem ter que ver com falta de amor, desconfie. Asseguro-lhe que é mais provável que esteja a sofrer de excesso de amor ou até mesmo a morrer de(por) amor.

Siga o meu conselho: consulte sem demora um constelador perto de si.

Viver Saúde

ANO XI N.º44 – Mai/Jul-2011

Artigo na Zen Energy

Desvendar para Reconciliar com as Constelações Familiares

Saímos sempre de um seminário de Constelações Familiares com a alma boquiaberta e o chão a parecer fugir-nos dos pés. Vemos claramente como fomos criando scripts nebulosos para o filme da nossa vida e da dos outros brandindo chavões decorrentes dos condicionamentos sócio-culturais a que estamos sujeitos. E só pensamos : até hoje via o mundo às avessas!

Muitas mulheres vivem convictas de que a sua infelicidade se deve à relação conflituosa com a mãe. Sempre por culpa desta, claro, e dos muitos defeitos que lhes apontam. Curiosamente, em lampejos esparsos de clarividência, até reconhecem os mesmos defeitos em si mesmas, o que as enfurece ainda mais poisfoi o mau feitio e a frieza da mãe que as condicionou tornando-as seres de plasticina ou, inversamente, duras e altivas, ambas as coisas repercutindo-se pesadamente nas relações pessoais e profissionais onde, curiosamente, oscilam por vezes entre a vitimização e a exigência extrema.

Tomemos por paradigma o caso de Maria, uma professora de 43 anos. Na entrevista que antecede a Constelação Familiar, porque sabe que só considero factos e não interpretações, apenas refere: Tenho problemas de estômago, mama e endometriose. Dou-me mal com a minha mãe.

Antes de indicar a M. os representantes que deve escolher, interrogo-a sobre a história familiar da sua mãe: Há uma cadeia transgeracional de mulheres que geraram filhos com rapazes filhos de proprietários; a bisavó de M. entregou à mãe dela, à nascença, uma filha que teve com o filho mais velho da família onde servia. A avó de M. entregou a filha à família do pai desta, (filho da família em cuja propriedade a sua família e ela própria trabalhava) e veio para Lisboa. Casando-se , foi buscar a mãe de M. tinha esta 14 anos.

Sei agora que não preciso de trabalhar com representantes do pai e da mãe. Em geral, procedo por etapas (abordagem fenomenológica) recorrendo a representantes para a família nuclear (pais e filho/a). Só mais tarde, se necessário, ou seja, se com estes representantes não vierem à luz as dinâmicas ocultas que condicionam o cliente, acrescento outros. No caso presente, digo a M. que escolha representantes para a bisavó, avó, mãe e para si mesma. Pelas posturas das representantes (afastamento, perda de forças, gestos de zanga e desespero, etc. ) fica claro que as filhas de cada geração rejeitam a mãe. Uma após a outra, afastam-se das mães quando as encaram .

Só quando reconstituo, na constelação, o laço mãe /filha, em cadeia, em núcleos sucessivos de mãe e filha, com frases reparadoras das Ordens do Amor (base do trabalho de CF) consegue Maria olhar para a mãe com um olhar limpo pela verdade essencial do vínculo que sugiro que expresse, para consolidação, da seguinte maneira: “Apesar da minha rejeição, és minha mãe. Nasci de ti. Agora recebo-te como minha mãe e podes ter-me como tua filha”. A mesma frase foi dita anteriormente pela mãe de Maria à sua própria mãe, pois é no movimento de amor interrompido da mãe de M. em relação à própria mãe que a deixou em casa da família do pai e só a foi buscar já adolescente que radica a identificação de M. (parentificação) com os sentimentos da mãe.

M. substitui a sua representante na Constelação. A representante da mãe estende-lhe os braços sorrindo. M. oferece resistência ao abraço da mãe, afastando a cabeça e olhando para o lado. Para que M. saia do estado infantilizado em que vive, julgando e recriminando a mãe, acreditando aparentemente ser melhor e saber mais do que ela, mas esmagada pelo desejo inconsciente de aliviar o sofrimento da mãe, o que é um pensamento de “poder mágico” que nasceu em M. quando criança, faço-a dizer: “Tu és a mãe, eu sou a filha. Tu és grande, eu sou pequena. Nada posso fazer para mudar o teu destino. Sou a miúda. A zanga que tomei para mim é tua. Devolvo-ta, com amor.” O rosto de M. ilumina-se como se só agora visse de facto a mãe. Respira ruidosamente por três vezes, abandonando-se depois ao abraço da mãe seguindo um impulso irresistível. Este movimento de cristalina energia invade M. com a mais pura seiva de amor filial.

Encerrada a Constelação, M. senta-se ao meu lado. Nela tudo fervilha. É tomada pelo turbilhão, surpresa e incredulidade que sempre invadem quem se resgata a si mesmo através de uma Constelação. De facto, impulsionados pela crença de que as causas dos conflitos e sofrimento provêm d a falta de amor na nossa família, devorámos revistas e livros de psicologia de tostão que ainda mais nos entrincheiraram numa incessante queixa. Atafulhámo-nos de jargão psicológico e psicanálise por décadas. E um dia, numa constelação, percebemos que afinal não queríamos matar a mãe, mas sim, cegos de amor, poupá-la e até mesmo salvá-la desenvolvendo doenças em vez dela…

Olho para Maria, a meu lado. Exclama: Estou livre! Remato prontamente: Ser adulto é assumir a responsabilidade pela própria vida… e isso é liberdade, sim!

Zen Energy

Número 29 / Jun 2011

Entrevista à Progredir

“A meditação é uma ponte para nós mesmos”

A viver grande parte do tempo no Osho International Meditation Resort, na Índia, Satori Darshan dirige o Osho Centro de Meditação Darshan Zen em Portugal. Em entrevista à Revista PROGREDIR explicou a base dos ensinamentos de Osho e destacou a importância da meditação para um reencontro pessoal. Entrevista por Sofia Frazoa e Fotos por Joana Aguiam

PROGREDIR: O que significa Satori Darshan?

Satori Darshan: É o nome que corresponde ao meu rosto original. O Darshan é o primeiro – apesar de na ordem aparecer como o segundo, mas é o mais importante – e quer dizer “ver”, o encontro com o mestre, ir ver o mestre. Quando se ia ver Osho também era Darshan Osho. O mestre exterior é o reflexo do mestre interior, portanto, é também o encontro com o mestre interior. Satori quer dizer, em japonês, uma iluminação transitória ou um vislumbre da iluminação. No meu livro eu falo muito deste meu aspeto de acende e apaga porque tanto estou, de facto, muito iluminadinha, a saber muito mais do que sei, a ver muito mais do que vejo, como depois estou na minha humanidade mais limitada, no meu dia-a-dia e na minha sombra, nas minhas dúvidas. Mas o Satori é também um processo meditativo zen que foi desenvolvido sobre a orientação de Osho.

PROGREDIR: Chegou a ser professora universitária e teve outras atividades antes do Reiki entrar na sua vida. O que é que encontrou no Reiki que não tinha encontrado até aí?

Satori Darshan: Penso que foi, sobretudo, a necessidade de ir para dentro e de me encontrar comigo em níveis mais profundos e, claro, tudo é espiritual mas há uma espiritualidade não consciente, que é a da maior parte das pessoas. No meu caso, tinha alguns vislumbres de que não devia estar aqui assim tão por acaso, mas não era uma coisa assumida conscientemente. O que o Reiki me veio trazer foi viver mais consciente da minha dimensão espiritual e da minha ligação ao todo e aos outros, a todos os seres. E a ideia de que somos todos um.

PROGREDIR: E entretanto criou o seu próprio método de Reiki, o Reikimix. Em que consiste?

Satori Darshan: Quando percebo que há vários Reiki que se vão desvendando para mim, começo já a fazer um mix. Sou iniciada ao Reiki original, ao Reiki japonês ensinado no fim dos anos 20, e tomo contacto com um sistema de Reiki intacto, sem nenhuma abordagem ocidental. Sou a terceira ocidental na época a poder ensinar o Reiki original. O que faço hoje também é utilizar muito da minha formação de letras e de ciências humanas. Comecei a ensinar Reiki, mas também a tratar pessoas oito e nove horas por dia durante, pelo menos, uns cinco ou seis anos. E isso é uma coisa muito importante.

PROGREDIR: Quanto mais se pratica mais se aprende?

Satori Darshan: Chiyoko Yamaguchi, uma senhora japonesa que manteve o sistema de Reiki intacto, quando se encontrava com os ocidentais perguntava sempre que casos interessantes tinham tido. A maior parte dos ocidentais dizia que não tratavam pessoas, que só ensinavam. Para ela isso era impensável, incompreensível. O que é que as pessoas sabem de Reiki quando elas próprias não passaram pelo processo de cura? Eu passei, tratei-me oito e nove horas por dia e depois tratei muitas pessoas. Tenho menos ilusões e fantasias sobre o Reiki, sobretudo o Reiki em relação a outros métodos de cura energética. Hoje está muito na moda dizer que há métodos que correspondem a outras energias mais modernas. Mas tudo isso são fantasias, mais nada.

PROGREDIR: Como é que integra o Reiki com as constelações familiares e este trabalho do Osho?

Satori Darshan: Quando faço um seminário de técnicas originais japonesas de Reiki da associção de Usui, com um alemão que é também um constelador e que faz uma demonstração de constelações familiares no fim do curso. Lembro-me de estar na constelação como representante e pensar que tinha de aprender aquilo. Dali a uns meses ele fez-me a primeira constelação e pouco tempo depois fui também convidada a ir a Espanha fazer uma primeira formação. De há quatro anos para cá faço formação anualmente com Bert Hellinger.

PROGREDIR: À luz dos ensinamentos de Osho, qual é a explicação para estes momentos difíceis que atravessamos?

Satori Darshan: Que momentos é que atravessamos? O mundo sempre esteve em crise. Há uma Osho Ciência da Transformação que é “torna-te consciente, vive consciente, deixa de fazer parte da multidão, deixa de fazer parte dos 99,99% que vivem sem saberem quem são e porque estão aqui”, que vivem um sonho acordado, que não são capazes sequer de estar no aqui e no agora. Porque enquanto estão aqui, estão ao mesmo tempo no passado, no futuro, no mais ou menos e em vários cenários. Tudo isto se passa em oito horas de trabalho, por exemplo. Isso é uma coisa que tira focalização, que traz cansaço, que impede a produtividade, que neste país é quase nula.

PROGREDIR: O trabalho de Osho ajuda-nos a fazer esse centramento?

Satori Darshan: A meditação, a vida enquanto meditação e o programa específico de trabalho enquanto meditação que Osho nos legou é, de facto, uma ponte para nós mesmos e para acabarmos com muitas fantasias de sermos vítimas de coisas que nos acontecem. Porque um ser que vive em meditação, aqui e agora, consciente, não pode responsabilizar ninguém por aquilo que lhe acontece. Tem de assumir a responsabilidade da sua própria vida. Se todos assumirmos a responsabilidade da nossa própria vida, quando voltamos a nós próprios através da meditação, temos menos medo, sentimos menos separação. Porque o medo, o ego, a mente e as emoções desordenadas são aquilo que nos faz ver a vida através de lentes bastante negativas. Se eu abro mais o coração porque estou mais no meu eixo, sinto-me mais forte, tenho menos medo de gostar de mim e dos outros, posso também contribuir mais para o conjunto da família humana. Porque nós somos o mundo, somos todos irmãos na Terra. E, portanto, as crises são momentos muito valiosos. Acho muito interessante que muitas pessoas da faixa etária mais nova estejam a sair de Portugal. Isso vai mudar Portugal.

PROGREDIR: Porquê?

Satori Darshan: Porque é preciso ver mundo. É preciso ver outras maneiras de viver, de estar, de lidarmos uns com os outros e vermos que o outro não é assim tão diferente. Porque nas nossas ânsias, naquilo que mais desejamos profundamente, quer seja no mato em África, na Amazónia, na Índia, no Japão ou na Baixa da Banheira, todos procuramos a mesma coisa: vivermos relaxados, bem com o corpo, vivermos ligados aos elementos, à natureza e em entreajuda, usando os outros como espelhos para crescermos.

PROGREDIR: Nesse processo de tomada de autoconsciência, por onde podemos começar?

Satori Darshan: De facto, os caminhos são muito diferentes. Eu não penso que toda a gente esteja preparada para começar com Osho porque Osho, além das técnicas de meditação, mais de cem que nos deixou, deixa-nos os seus discursos, que são também meditação. E nesses discursos ele está a abanar completamente as nossas crenças. Tudo aquilo em que acreditamos, que é a formatação que temos desde pequeninos, dos pais, da família, da sociedade, da Igreja, Osho começa a descondicionar-nos. E são processos de grande abanão. Praticamente perdemos o pé, nada fica no seu lugar, e isso é bastante assustador. Então, muitas vezes o que acontece com Osho é que as pessoas começam com as meditações ativas, que tomam de maneira errada por algum exercício físico que depois as cansa e as leva ao silêncio na parte final.

PROGREDIR: Como se processam as meditações de Osho?

Satori Darshan: As meditações de Osho têm, normalmente, quatro ou cinco estádios e todas elas recorrem a respiração e movimento (pode ser corrida, abanar o corpo, movimentos oculares rápidos). Tudo coisas que as neurociências hoje, mais de 20 anos depois de Osho ter desenvolvido estas técnicas, nos apontam como sendo algumas das maneiras mais eficazes, por exemplo, de libertar traumas das nossas células e do corpo. Em relação à Osho Meditação Dinâmica, que é a mais importante e a mais transformadora a curto prazo, as pessoas começam com respiração caótica porque é essa respiração caótica, com focalização na expiração, que nos prepara para o segundo estádio. E esse é deixar vir qualquer emoção, que podem ser traumas que estão presos no inconsciente e ao quais não temos acesso na nossa vidinha do dia-a-dia. O terceiro estádio depois da catarse é saltar sem parar, com os braços no ar e cada vez que os pés aterram no chão gritamos “uh!” e vamos enviar este som primário e selvagem para o primeiro chakra, o centro sexual, e já estamos a ir além da catarse.

PROGREDIR: É importante ir além da catarse?

Satori Darshan: Era fácil ficar na catarse e já era bom. Mas Osho é, de facto, um génio e o que ele faz do ponto de vista energético é levar-nos de etapa em etapa para integrarmos todo o processo. Depois de saltarmos vamos ouvir um stop e vamos congelar. Isto é, vamos observar o que está a acontecer como nos estádios anteriores estivemos sempre a observar. A catarse não é uma catarse que se faz, às vezes, mais a seco e em bruto. É uma catarse em que continuamos conscientes a observar, a testemunhar. Endoidecemos, na parte da catarse, mas endoidecemos conscientemente. E em todos os outros estádios, enquanto estou a saltar, também estou a ver-me e a sentir-me a saltar. E quando congelo é o auge desse testemunhar. E para integração de tudo isto temos, no fim, alguns minutos de dança de celebração por nos termos permitido passar por aqueles momentos de mudança e de encontro connosco. A cada Osho Meditação Dinâmica que fazemos deixamos de ser quem éramos e passamos a ser alguém mais do que éramos antes.

PROGREDIR: Onde é que se inclui a meditação em completo silêncio?

Satori Darshan: Esse é o objetivo, mas Osho sabia muito bem que nós não temos quatro ou cinco mil anos de tradição em meditação. Ele sabia que, se nos sentássemos quietinhos, a mente ia ficar a trabalhar. As pessoas por fora estão sentadas e quietas, mas por dentro estão numa inquietação enorme porque não estão em meditação nenhuma em geral. São precisos vários anos para limpar o sistema. E o sistema é o biocomputador, que é a mente, mas é também muito o coração. Aquilo a que chamamos coração é, muitas vezes, uma série de emoções e de traumas que nos comandam. “Segue o teu coração” é muito bonito, mas se o meu coração está cheio de medo dos outros, de mim mesma, de falta de autoconfiança, de autoestima, se sigo o coração onde é que vou chegar? Então o biocomputador, a mente, as emoções, o corpo, tudo isto pode ser ativado e “limpo” porque saem os condicionamentos, as emoções, os traumas. É um lado de transformação energética, todos estes processos são processos energéticos.

PROGREDIR: E fica-se mais leve do passado que carregamos?

Satori Darshan: Muda a qualidade do que está dentro de nós. Então, quando deixamos de ter as vozes todas da família, dos antepassados e do inconsciente coletivo, podemos encontrar-nos, ou estar connosco, cada vez mais silenciosos. Aí, sim, posso estar sentada horas e horas, dias inteiros, em vipassana, apenas dando atenção à respiração. Osho integrou um outro estádio na Osho Meditação Vipassana que consiste em, depois de meia hora em silêncio, caminhar conscientemente olhando em frente para o chão, sentindo o corpo. É um regresso, é estar aqui no corpo, como ele diz “o corpo, a mente e a alma são apenas um único fenómeno”.

PROGREDIR: Para Osho uma terapia nunca é a solução dos problemas, mas um caminho para a meditação. Porquê?

Satori Darshan: Ainda hoje em Pune temos esse sistema, que é os cursos acabarem todos às quatro da tarde. Até essa hora, as pessoas estão a fazer as terapias que as ajudam a conhecerem-se melhor, a conhecer melhor também todo o condicionamento que têm. Sem olharmos para o que é, para o que está lá, não podemos transformá-lo. Então temos de ver de que é que somos feitos, de que condicionamentos, de que programação, quais os pensamentos que não param. Porque cada ser é único. Se não vamos até esses condicionamentos através de várias terapias, não os podemos transformar noutra coisa. A meditação, sim, ao trazer-me para o aqui e para o agora e para o silêncio já transforma alguma coisa e já me faz ver que eu não sou aquilo. Eu não sou o tal sistema de crenças em que cresci e que fiz meu inconscientemente. Quando me conheço, já não posso dizer que os meus pais são culpados sejam lá do que for. Ninguém é culpado de nada. E todos eles estiveram comigo nesta vida para criarem situações que me levassem nessa busca e que me levassem também a fazer esse trabalho de me desembaraçar do que não sou eu. O que é que sou eu e o que somos nós todos? Somos budas em semente, como Osho dizia. O buda está dentro de nós e este já é um caminho para, de vez em quando, termos alguns lampejos do nosso estado búdico.
Izabel Telles

PROGREDIR: Porque é que a era dos gurus acabou, como dizia Osho?

Satori Darshan: Eu não considero o Osho um guru e, portanto, tenho grande dificuldade em falar nisso. O que é um guru? Normalmente é alguém que não sabe dizer grande coisa, mas que está ali com uma iluminação. Espera-se, pelo menos, que não sejam apenas professores e que sejam, de facto, mestres que estão a transbordar de energia. Estar no campo búdico de um mestre espiritual eleva a consciência geral daqueles que os procuram, mas estão muitas vezes retirados, não pode haver sequer diálogo com eles. E com Osho -por isso é que eu lhe chamo um buda amigo, ou um amigo buda – eu converso com ele e ele responde-me. Ainda hoje, 20 anos depois de deixar o corpo, este diálogo é constante. Levo-me a interrogar sobre alguma coisa e ele responde-me. Ou através de um livro ou através de uma revista, da Osho Times, ou responde-me num discurso.

PROGREDIR: As pessoas ainda procuram muito esses mestres e gurus?

Satori Darshan: Procuram. Até fazem de mim mestre e guru. Eu não sou mestre espiritual de ninguém. Tomara eu ser minha mestre. Sou apenas uma companheira de viagem, que pode ter um bocadinho mais de técnica, pode ter uma visão um bocadinho mais alargada por passar pelas coisas mais fundo, por ser suposto que seja assim, mas mestre espiritual não sou. Porque é que as pessoas têm uma grande necessidade de mestres e de pôr essa carga toda em alguém? Porque o ego dos terapeutas fica todo a tilintar. Sim, as pessoas querem encontrar maneiras de dizer que estão em transformação sem estarem. Uma maneira muito comum é o Reiki. O Reiki pode ser empurrado com a barriga toda a vida que não acontece praticamente nada. Acontece uma transformaçãozita, a energia do campo magnético das pessoas eleva-se um bocadito, mas como elas depois também não fazem muito e param, podem ficar toda a vida a achar-se muito espirituais porque fazem Reiki.

PROGREDIR: É por isso que diz que as pessoas às vezes consideram que é “má”?

Satori Darshan: É porque, também como o meu mestre, eu digo tudo o que tenho a dizer com uma lucidez e uma clareza crua. Não é cruel, mas é crua. Porque alguém que me venha com falinhas mansas sobre o amor incondicional, que está tudo muito bem e temos de compreender e não sei o quê, tudo isso para mim são tretas e são tretas que nos levam a perpetuar a fantasia. E a fantasia vem dos condicionamentos. Depois há a fantasia espiritual, que também é sempre interessante. Podemos estar doze horas a falar de espiritualidade e não estamos a dizer nada.
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PROGREDIR: Como se processa a terapia Falar com o Corpo Mente?

Satori Darshan: Foi a última terapia desenvolvida por Osho, dois anos antes de deixar o corpo. Lembrou-se que muitos de nós não escutamos o corpo e estamos dissociados dele, então, usando técnicas de hipnose, de programação neurolinguística, em que o facilitador guia a pessoa por uma viagem ao corpo e ao inconsciente, vamos dar atenção a sintomas do corpo para entender de onde é que eles vêm. A mente inconsciente que nos dá os sintomas chega até nós e é uma ponte para o inconsciente com a designação de “o guardião”. No fundo, protege-nos, dá-nos o sintoma como uma chamada de atenção para alguma coisa que estamos a ver ou a fazer e que não está a ser vivida ou feita da maneira adequada à nossa natureza. Através deste processo, vamos modificar comportamentos, maneiras de estar, de nos expressarmos. É toda uma terapia meditativa que nos pretende levar a reinstaurar uma relação de amizade com o corpo.

PROGREDIR: Há alguma razão especial para só as mulheres poderem ser terapeutas nesta terapia?

Satori Darshan: Osho disse que só mulheres é que o podiam fazer porque a energia da voz de uma mulher é, digamos, mais favorável a este tipo de conversa com o inconsciente, que é menos intuitivo. Uma voz com energia masculina pode levar as pessoas mais facilmente a conseguirem passar pela mente durante o processo. Não é só isto, mas é também isto. Então a voz da mulher é também a voz da mãe. Há uma programação do nosso inconsciente para estarmos abertos a novas programações que nos possam tornar mais saudáveis e que nos ajudem a viver de uma maneira mais plena se for através do som e através da energia da voz de uma mulher.

PROGREDIR: Acabou mais um Osho Festival. Como tem sido a experiência destes festivais?

Satori Darshan: A ideia de começar a fazer um festival foi porque em Portugal não havia tradição Osho. Alguns que reclamam divulgar as práticas de Meditação Ativa do Osho nunca foram a Pune, nunca estiveram no campo búdico de Osho e têm uma compreensão, do meu ponto de vista, bastante afastada do que Osho nos ensinou. A permissividade de Osho não é a mensagem de Osho. Osho diz: “está bem, faz todas as asneiras que quiseres, cai e levanta-te porque é assim, através da experiência, que aprendes”. Portanto, não condena nada, um buda não pode condenar nada. Nem julga. Mas isso é um primeiro estádio, às vezes também de consciência, dentro desta corrente de energia que é Osho. Os festivais vêm dar e transmitir às pessoas um certo gostinho do que é viver em Osho Meditação. Como é que a nossa vida é perpassada por uma alegria nunca imaginada, uma leveza em consciência, em firmeza ao mesmo tempo. Portanto, todo esse lado de Zorba e Buda que ele defende, que é o homem celebrante, não é oposto àquele que está a despertar a sua natureza búdica. Acho também este conceito muito inspirador para o homem e a mulher do século XXI, porque é muito do nosso tempo. Não queremos ser budas e ir para os Himalaias, mas podemos ser budas aqui no centro de Lisboa. O festival é uma caixa de bombons das ferramentas de meditação Osho e de algumas terapias que também são feitas na perspetiva de Osho. Sempre responsabilizando a pessoa e levando-a a fazer a maior parte do trabalho. É levar a pessoa a passar por experiências de si mesma, da sua própria natureza, que lhe trazem mais autoconfiança, autoestima e uma renovada inocência.

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